Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, serei muito breve,
apenas quero registrar, com muita alegria, que ontem Brasília foi palco de uma
celebração importante na cena cultural brasileira: a entrega do Prêmio Rodrigo
Melo Franco de Andrade. Editado a cada ano pelo Iphan, o prêmio tem cumprido
papel fundamental na difusão de ações de preservação do patrimônio cultural
brasileiro.
Ações que não são feitas pelo Estado, mas por forças vivas da
sociedade, em todos os cantos do país, mostrando o Brasil profundo que nos
revelou Mário de Andrade e vários outros intelectuais que participaram da
criação do Iphan, artistas e profissionais apaixonados, que apontaram os rumos
de um novo olhar, de uma nova sensibilidade e de uma reinvenção do Brasil.
Foram premiados ontem projetos que vão desde a preservação de
museus, capelas, ruínas patrimoniais e canoas do patrimônio naval brasileiro,
até ações de mapeamento cultural de benzedeiras, trabalhos de valorização da
memória do coco nordestino, de revitalização do samba de bumbo no interior
paulista, de preservação de danças e músicas quilombolas e vivências
afro-descendentes e indígenas. Uma premiação digna de um Brasil plural, mestiço e pulsante
em sua força criativa e cultural.
O IPHAN está de parabéns por mais esta
realização entre tantas, que faz jus a sua história de quase 75 anos e que nos
faz ver como foram boas às sementes lançadas por Rodrigo Melo Franco de Andrade.Ontem o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo – pessoa muito
preciosa para Brasília – disse ao presidente do Iphan, Luiz Fernando de
Almeida, que se a Dona Graziema, mulher de Rodrigo, estivesse viva teria dito a
ele: Rodrigo, Benzedeira agora é patrimônio!
E é isso: Benzedeira agora é patrimônio. Como dizia o próprio
Rodrigo Melo Franco de Andrade, "a subsistência desse patrimônio é o que comprova,
melhor do que qualquer outra coisa, o nosso direito de propriedade sobre o
território que habitamos”. O fator principal que a sociedade deve refletir e, a partir
daí, recuperar suas cidades, é o fato de que o patrimônio gera agregação
social, nos dá sentido de lugar, territorializa nossas experiências, nos dá
sentido de pertencimento e de uma compreensão do que é a nossa identidade
enquanto cidadão de um município, de um estado, do país que é o Brasil.
Essa
função social precisa ser posta em prática para que o patrimônio possa de fato
ser algo muito além do que uma simples lembrança do passado.Nesse sentido, a cerimônia de entrega da 24a edição do Prêmio
Rodrigo Melo Franco de Andrade acontece em um momento oportuno para a
valorização do patrimônio brasileiro.
Momento em que nos preparamos para sediar
a copa e os jogos olímpicos, momento em que o Brasil se mobiliza para tratar da
questão como uma oportunidade de qualificar as estruturas e o ambiente social
de nossas cidades.É evidente que um processo desses não deixa de ser um desafio
importante e um estímulo para que se invista mais em nossas cidades, mas
precisamos nos libertar – principalmente em um momento desses – da condição
colonizada de sempre termos que melhorar para os outros, para "quem” e para "o
quê” vem de fora.
Temos que melhorar para nós, para o nosso país, para os
milhões de brasileiros que aqui vivem, para o nosso ambiente, para o nosso
desenvolvimento, para o nosso patrimônio.Por isso, é fundamental pensarmos nos jogos da Copa e das
Olimpíadas para além de sua dimensão meramente pontual, mas como verdadeiros
propulsores de desenvolvimento, no sentido de viabilizarem e proporcionarem a
criação de ações e políticas para a qualificação da vida dos brasileiros, do
ambiente social e cultural de nossas cidades e dos serviços prestados à
população. Seja na preparação desses eventos, no trabalho de revitalização e modernização
de bens e serviços.
Seja no planejamento pós-eventos, para o aproveitamento
cultural e social dos estádios e estruturas que estão sendo construídos, que
merecem contar com uma farta e diversificada programação de atividades
pedagógicas e sócio-culturais. As cidades que serão as sedes dos jogos da Copa de 2014 e da
Olimpíada de 2016 – e quero aqui registrar o fato de que Brasília sediará a
abertura da Copa das Confederações e sediará a disputa do 3º lugar da final das
Copas do Mundo, além de vários outro jogos – possuem juntas mais de 650 museus,
que são verdadeiras "portas de entrada” para o turista para conhecer a
diversidade cultural local. Também serão construídos e modernizados centenas de
espaços esportivos e culturais. Vamos colocar esses bens a favor de nosso
patrimônio e, o nosso patrimônio, a favor de nosso país.
Para finalizar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,
permitam-me registrar uma breve homenagem ao prefeito de Ouro Preto, Ângelo
Oswaldo, que ontem foi um dos homenageados pelo Prêmio Rodrigo Melo Franco de
Andrade pelas políticas públicas desenvolvidas na cidade de Ouro Preto em favor
da defesa do patrimônio.
Além disso, tem um papel histórico na preservação do
caráter monumental de Brasília, que muitos não sabem. Ângelo
Oswaldo presidiu o Iphan entre 1985 e 1988, nas gestões dos ministros José
Aparecido e Aluísio Pimenta, com papel de destaque no Ministério da Cultura até
a gestão de Celso Furtado, seja como chefe de gabinete, seja como ministro
interino.Grande
amigo de José Aparecido, colaborou de perto com o governador no processo de
tombamento de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade. Promoveu
diversas ações em parceria com o GDF, quando Vera Pinheiro era secretária de
cultura, para a valorização da memória das primeiras paisagens de Brasília,
envolvendo o plano piloto de Lúcio Costa e a obra de Oscar Niemeyer.
Como
presidente do Iphan, facilitou o trabalho desses dois mestres. Junto a Dra
Belmira Finageiv (que faleceu neste ano e foi pioneira na preservação de
Brasília) e aos arquitetos Briane Bicca e Augusto da Silva Telles, preparou o
dossiê enviado à Unesco para a consagração de Brasília como patrimônio
histórico e cultural, o primeiro núcleo urbano contemporâneo a ingressar nessa
relação.
Por
isso, quero prestar essa breve homenagem a ele, que merece o reconhecimento de
todos nós brasilienses e brasileiros, pelo belíssimo trabalho que vem cumprindo
pela preservação do patrimônio brasileiro e pelo papel que cumpriu na história
da capital do nosso País, a nossa querida Brasília.Era
esse o registro, Sr. Presidente, que gostaria de fazer na noite de hoje.
Muito
obrigado.