O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB-DF. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, cumprimento o Deputado Glauber Braga, que assume o mandato de Deputado Federal, representando o Rio de Janeiro, o que, tenho certeza, fará de forma brilhante.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero dirigir uma saudação aos cidadãos de Brasília, que demonstraram união e equilíbrio no trato de um conflito que se instalou em torno da programação do Carnaval da cidade. Tratava-se da resistência de parte dos moradores, incomodados com o barulho e com o comportamento de alguns foliões, a que a agremiação Galinho de Brasília, a exemplo do que sempre ocorreu nos últimos 16 anos, se concentrasse ou fizesse seu trajeto pelas ruas entre as Superquadras 203 e 204 Sul.
O Galinho surgiu com o propósito de trazer para o Planalto Central as tradições e alegrias do Carnaval de Recife e Olinda, embalado pelas melodias e o ritmo contagiantes do frevo e do maracatu. Desde o primeiro ano, seu sucesso foi extraordinário e o novo bloco contribuiu para revitalizar o carnaval de rua da Capital Federal.
No entanto, no ano passado, diante da demora de seguidores do bloco de deixarem o local da concentração, após o previamente estabelecido, as forças policiais lamentavelmente lançaram mão de força excessiva e feriram diversos foliões, inclusive idosos e crianças, que constituem parte considerável dos adeptos do Galinho. Essa atitude inaceitável da parte de quem deveria agir no sentido de reduzir a violência, ao invés de aumentá-la, despertou o repúdio de todos.
Infelizmente, o tumulto gerado pela ação das forças policiais tensionou ainda mais as relações entre o bloco e parte dos moradores. Em virtude disso, os organizadores do Galinho solicitaram das autoridades do Distrito Federal o compromisso de garantir uma atuação adequada do policiamento, no que não foram, em um primeiro momento, atendidos, sob a alegação de que não havia condições de garantir a segurança de moradores e foliões, durante o desfile. Na falta desse compromisso, não restou ao Galinho outra saída senão comunicar oficialmente sua desistência de brincar o Carnaval deste ano.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, tenho orgulho de ter sido um dos primeiros a levantar minha voz contra esta situação, que, se confirmada, representaria uma enorme perda para a cultura e o Carnaval de Brasília.
Há cerca de uma semana, entrei em contato com o Governador José Roberto Arruda, buscando intermediar uma solução para o caso.
Moradores de todas as partes do Distrito Federal também protestaram por meio de mensagens dirigidas às autoridades locais, publicadas na Internet e nos principais jornais e emissoras de rádio e TV. Os próprios moradores das Superquadras Sul 403, 404, 203 e 204, em sua maioria, não se conformaram com o fim do Galinho. No encontro com o Governador argumentei que realmente seria lamentável um bloco, já tradicional na cidade, deixar de sair, e que haveria de se encontrar uma solução entre os moradores e o bloco carnavalesco.
Houve uma interferência positiva do Governador, as autoridades recuaram e a Secretaria de Segurança acabou garantindo uma atuação adequada das forças policiais em favor da segurança de todos. Prevaleceram o bom senso e o equilíbrio. Produziu-se um acordo entre o bloco e os moradores, para que o Galinho se concentre próximo ao Banco Central, apenas passando pelas superquadras que tradicionalmente acolheram o Galinho de Brasília, que ali surgiu.
Com isso, ganham a cidade e o carnaval de rua de Brasília, demonstrando que, com bom senso e equilíbrio, por meio do diálogo, podemos resolver a contento problemas e conflitos, garantindo não apenas o direito dos moradores, que querem tranquilidade, mas também o direito dos que querem brincar o Carnaval, esta festa que é tão antiga quanto a civilização ocidental.
O Carnaval Iniciou sua gestação na Grécia Antiga e se expandiu por toda a Europa, onde se transformou na expressão maior da cultura popular durante grande parte da Idade Média. Trazido para o Brasil, ganhou nova fisionomia e riqueza — musical, coreográfica, simbólica — e hoje constitui aspecto primordial de nossa identidade. Adaptá-lo a outras demandas da comunidade é legítimo; por sua vez, silenciá-lo equivale a uma espécie de autoamputação.
Portanto, cumprimento o Governador de Brasília, a Diretoria do Galinho de Brasília e os moradores, que chegaram a este entendimento. A solução encontrada é emblemática das possibilidades que se abrem a partir da negociação e do exercício da cidadania.
Vida longa ao Galinho e à cultura brasileira!
Muito obrigado. |