Em artigo publicado no jornal Correio Braziliense, Rodrigo Rollemberg fala sobre os desafios da Universidade de Brasília para os próximos anos. Na sua avaliação, a UnB também deve chamar para si a responsabilidade de liderar a busca de relação adequada entre o DF e o Entorno

A UnB
nasceu da mesma utopia de Brasília. Da mesma força que mobilizou o país pela
mudança e o compromisso com um projeto de vanguarda, universalizante e
agregador. Cresceu
com a capital e se aliou à vida pública não apenas como espaço de formação, mas
também de criação, cidadania e circulação livre do pensamento.
Uma história que
traduz o espírito pioneiro de seus fundadores, intelectuais da estirpe de Darcy
Ribeiro, Anísio Teixeira, Agostinho da Silva, Eudoro de Sousa e muitos outros.
Todos mestres de um novo tempo da produção intelectual nacional, libertária,
criativa e engajada em um projeto de desenvolvimento humano, com fortes
aspirações democráticas.
Na celebração de seus 50 anos, a UnB deve revisitar as
suas origens para buscar sua orientação de futuro. A
UnB é uma das instituições de maior credibilidade na capital e é estratégica
para toda a nossa região. Por isso, é importante que ela tome a frente de um
profundo processo de reflexão e formulação de soluções para os desafios das
próximas décadas.
Não
posso resistir à tentação de citar algumas possibilidades e começo pela
formação e qualificação de professores de ensino básico, tarefa na qual a UnB
tem dado grande contribuição. Investimentos nas licenciaturas e na integração
entre ensino, pesquisa e extensão podem garantir a boa formação de professores
e a permanente qualificação do corpo docente em serviço.
A
sinergia entre educação continuada, salários justos e condições dignas de
trabalho para os professores, somada à grande mobilização da sociedade poderiam
recuperar os fundamentos do projeto arrojado de educação implantado por Anísio
Teixeira. A UnB é fundamental para que o ensino público do DF possa dar o salto
de qualidade necessário para enfrentar os novos desafios éticos e tecnológicos
que se colocam, de forma cada vez mais acelerada.
Também
poderia liderar o processo de interação entre a comunidade científica e
empresas no DF e no Centro-Oeste, compartilhando laboratórios, utilizando os
benefícios da legislação federal e contribuindo para aprimorar a legislação
local. A Universidade tem papel fundamental na extensão tecnológica, voltada
prioritariamente para micro e pequenas empresas, e na implantação dos parques
tecnológicos, sobretudo em áreas ligadas à saúde, tecnologia da informação,
biotecnologia, biomassa e nanotecnologia.
Assim
a sociedade, aliada à sua Universidade, poderia criar um ambiente favorável à
inovação e à distribuição de benefícios do desenvolvimento científico e
tecnológico e, como há 50 anos, promover a segunda etapa da ocupação do Brasil
Central, mas desta vez por empreendimentos sintonizados com a sustentabilidade
ambiental.
A
UnB deve chamar para si a responsabilidade de liderar a busca de relação adequada
entre o DF e o Entorno. Entre os principais desafios, estão o desenvolvimento
integrado dessa região, de forma a garantir qualidade de vida para todos e a
reduzir drasticamente a enorme desigualdade social e a crescente violência.
O
planejamento urbano com os olhos voltados para as futuras gerações é outra
tarefa importante, além de ser uma forma de trazer para a atualidade as
diretrizes de ocupação planejada do solo. Por
tudo isso, é preciso que a UnB busque cada vez mais se renovar em sua vocação
transdisciplinar e laboratorial na promoção de um verdadeiro diálogo de saberes.
Que ela possa reforçar a sua relação com Brasília, para que a cidade devolva à
universidade a pertinência da sua produção de conhecimento. E que a UnB também
possa repensar sua relação com a universalidade para, cada vez mais,
transcender os saberes intramuros para interagir com os saberes da experiência
feita, vinda das tradições, das culturas e das práticas legitimadas no
cotidiano das diferentes comunidades do país.
Darcy
Ribeiro dizia que, "em vez de ser mais uma universidade-fruto, reflexo do
desenvolvimento social e cultural prévio da sociedade que a cria e a mantém, a
UnB deverá ser uma universidade-semente, destinada a cumprir a função inversa,
de promover o desenvolvimento”.
Realizar
essa tarefa hoje pressupõe transformações no plano político que vão muito além
das fronteiras da universidade. Que as palavras de Darcy sejam sempre um
horizonte nesta caminhada. Que cidade e universidade possam caminhar juntas na
busca de soluções para as necessidades do país.
E que o caminho seja sempre o
de aproximação da ciência com a realidade brasileira, em todos os seus
processos de mudança e renovação.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense - 18.2.2012